A pesquisa investigou o uso de terapias complementares e espirituais por pacientes oncológicos atendidos em uma instituição terapêutico-religiosa da cidade de Florianópolis (SC), o Centro de Apoio ao Paciente com Câncer (CAPC). Esta instituição oferece terapias complementares, grupos psicoterapêuticos e cirurgias espirituais, sendo que nela trabalham médicos, enfermeiros, religiosos e terapeutas diversos. Utilizamos como método a observação participante realizada ao longo de 15 meses dentro da instituição. Foram realizadas ainda 21 entrevistas semiestruturadas com pacientes e voluntários do CAPC e com seus dirigentes. Observou-se que as pessoas com câncer atendidas no CAPC possuem uma lógica de cuidado diversificada e plural que não opera com as dicotomias mente/corpo, biomedicina/terapias complementares para pensar os processos de saúde e doença, de modo que as terapias complementares/espirituais são analisadas enquanto sistemas possíveis de tratamento. Foram questionadas certas concepções ainda vigentes que analisam a adesão aos tratamentos complementares/espirituais com base nas ideias de "crença", falta de acesso ao sistema biomédico, carência econômica e/ou incapacidade da biomedicina em tratar certas doenças, pois identificou-se na pesquisa que tais formas terapêuticas eram utilizadas por pessoas de diferentes classes sociais e filiações religiosas, em diversos estágios do câncer, paralelamente ao tratamento biomédico, e não como a "última opção".