O presente estudo investiga o senso religioso em idosos portadores de câncer, hospitalizados numa ala de cuidados paliativos. Na investigação, adotou-se o conceito de enfrentamento religioso ER, proposto por Pargament que refere-se ao modo pelo qual as pessoas recorrem às suas crenças religiosas para lidar ou justificar os eventos aversivos. O construto considerado refere-se ao lócus de controle e à modalidade relacionada à atribuição de causalidade. Buscou-se identificar seus respectivos estilos de ER: cooperativo, delegante e autodirigido, referindo-se à relação do indivíduo com Deus (responsabilidade e nível de atividade no processo de solução de problemas). A pesquisa descreve a presença e o papel das crenças religiosas na vida dos idosos que vivenciam a expectativa da finitude, ressaltando sua utilização como um recurso de enfrentamento. Buscaram-se a identificação das fases no processo do morrer descritas por Kübler-Ross e um diálogo com os três estilos de ER proposto por Pargament. Foram entrevistados seis idosos entre 60 e 72 anos, hospitalizados na ala de cuidados paliativos de um hospital da rede pública de saúde do DF, nos quais, apreenderam-se a percepção que tinham da experiência de hospitalização, os temores relativos à morte, as crenças religiosas, sua relação com Deus, as modalidades e estilos de ER por eles empregadas. A execução, análise e discussão das falas dos idosos nas entrevistas, inspiraram-se na postura fenomenológica de Husserl. Os depoimentos foram organizados em eixos temáticos, destacando-se os respectivos sentidos apreendidos das experiências relatadas. Verificou-se que todos os colaboradores professavam alguma crença religiosa e referiam-se a ela como um meio de ajudá-los a lidar com esse momento de vida. Reconheciam a hospitalização atual como satisfatória, manifestando a vivência dos seus sentimentos. O ER positivo foi encontrado na maior parte dos depoimentos, assim como o uso de estratégias focalizadas no problema e na emoção. Todos os idosos recorreram ao estilo delegante, sendo que o estilo colaborativo também foi percebido na verbalização dos idosos, porém em menor escala, não havendo o emprego do estilo auto-dirigido. Em relação aos estágios do morrer, propostos por Kübler-Ross, a maioria dos idosos demonstraram comportamentos de depressão, e a barganha foi a etapa que mais pareceu relacionar-se com o estilo delegante de ER. Os resultados encontrados neste estudo demonstraram importantes contribuições para as áreas da Psicologia da Saúde e da Religião.