O climatério é uma fase que pode ser vivenciada com sofrimento, dependendo da sensibilidade individual ou perfil psicológico e capacidade de adaptação às mudanças provocadas pelas alterações hormonais. O presente estudo tem como objetivos compreender o sofrimento psíquico de mulheres na fase do climatério as quais estiveram sob os cuidados realizados pela equipe Saúde da Família em Teresina PI; compreender a vivência da fase do climatério por mulheres usuárias de uma USF, em seus aspectos emocionais, sociais, familiares, sexuais e de trabalho; descrever como se processam os cuidados na Saúde da Família sob a ótica da mulher na fase do climatério. A pesquisa foi desenvolvida no período de maio a setembro de 2007, na Unidade de Saúde São João, em Teresina PI com dez mulheres usuárias da SF vivenciando alterações decorrentes do climatério. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e observações diretas. Utilizou-se como referencial teórico o Interacionismo Simbólico, bem como a visão sociohistórica e construtivista do sujeito. O interacionismo aborda a ação do ser humano na relação com o mundo e a dinâmica social. A visão sociohistórica e construtivista concebe o homem como ativo, social e protagonista de sua própria história. As mulheres foram identificadas com diferentes situações maritais, com o número de filhos variando entre três e cinco, baixo nível de escolaridade, ocupações variadas e renda familiar em torno de um ou meio salário mínimo para o sustento, em média, de até quatro pessoas. Os resultados revelaram que o significado de sofrimento psíquico está atrelado às vivências cotidianas das mulheres em seus aspectos emocionais, sociais, familiares, sexuais e ocupacionais os quais estão relacionados com a traição, separação e violência doméstica. Na interação com os profissionais da saúde da família, essas mulheres buscam ressignificar sofrimentos relacionados ao alcoolismo e outras drogas, desemprego de familiares, depressão, isolamento, diminuição da auto-estima e do desejo sexual. Também ressignificam o sofrimento através da religiosidade, na qual buscam tornar suas dores mais suportáveis ou compreensíveis em relação à finitude e as dificuldades nas relações sociais, familiares e consigo mesma. As usuárias da SF solicitam um olhar cuidadoso para a atenção básica, interações humanizadas e acolhimento na perspectiva da saúde integral. Sabemos, no entanto, que, para a efetivação do novo paradigma de saúde, ainda existem inúmeras contradições e fragilidades. O grande desafio é, pois, adotar um modo diferente de fazer saúde, produzir sujeitos sociais comprometidos com outras perspectivas.